Programa Jovem: como conseguimos um programa na rádio em Chapecó
- Diário Expandido

- 24 de ago.
- 5 min de leitura
Por Clever Moia
Toda a vez que conto a história que já apresentei um programa na rádio em Chapecó, sinto os olhares de dúvida em minha direção, como se fosse mais uma das minhas lorotas. Pois bem, esta história necessita de uma contextualização. Em meados de 2021, eu fazia parte de um grupo de amigos muito ativos politicamente, que participavam de diversos movimentos sociais e políticos. Importante comentar também que estávamos ainda atravessando a pandemia, restringidos em termos de movimentação física e a grande dificuldade da mobilização de uma juventude, receosa com os efeitos do vírus, mas também combalida pelo momento histórico liderado pelo futuro presidiário da república. Era um período de reestruturação da juventude do Partido dos Trabalhadores na cidade, que já estava sendo liderada por nós desde as eleições municipais de 2020.
Neste cenário, desenvolvemos diversas estratégias de participação, como aulas online, eventos controlados, delivery de festa junina, entre outros. Conseguimos acessar espaços, contando com a ajuda dos políticos locais, mas a mobilização era um processo contínuo, sem ceder em nenhum momento, com o risco de degringolar. (Também, é preciso ser dito que erramos em alguns pontos, como não desenvolver um programa teórico político claro, que serviria de âncora para nossa atuação). De qualquer maneira, chegou até a juventude, após conversas internas de pessoas do partido, que poderia surgir a oportunidade de termos espaço numa rádio da cidade, com objetivo de instrumentalizar ainda mais nossas lutas. O programa seria na Rádio Efapi, rádio comunitária do bairro que historicamente é associado aos trabalhadores da agroindústria de Chapecó, e que já tinha outros programas voltados à classe trabalhadora. Definido que a chance era concreta, tínhamos que estabelecer, primeiramente, se haveria material humano para ter o programa e, depois discutir os objetivos, o formato e etc.
O processo de desenvolvimento contou com a ajuda de muitas cabeças, mas lembro que tomei a frente, pois era um dos poucos que tinha me comprometido a riscar os sábados à tarde de lazer do calendário e me dirigir a rádio participar de um programa. Além disso, estava com o ego um pouco ferido, uma vez que tinha sido preterido para ser presidente da juventude (o que fazia total sentido, uma vez que o escolhido trabalhava dentro de um mandato já). Com pouco conhecimento prático, discutimos que precisamos de gente que já tinha a manha, havia vivido os corredores de uma rádio. Desta forma, a Valéria (não sei se obrigada ou de boa vontade) se impeliu da responsabilidade, uma vez que vivia a rotina de jornalista, sendo uma das responsáveis pelo desenvolvimento do roteiro e, também, por apresentar o momento do esporte. Muito gentilmente, a Val convidou sua amiga Duda, que já trabalhava na rádio, tinha o timing, o conhecimento da maquinaria e a disposição de nos ajudar, para fechar o trio. Quando estabelecida uma base mais sólida, fomos numa reunião para ajustar os últimos detalhes e firmar parceria, ver data de estreia e etc. O programa nasceria, não tinha mais volta. Seria religiosamente às 15h dos sábados. Importante destaque para a equipe da rádio, que ofereceu suporte técnico e também vinhetas, bordões e toda a sorte de efeitos sonoros, levando a sério o projeto. Não lembro se o senso de empolgação era coletivo, mas a patota do programa estava animada, não apenas pela possibilidade de nos tornarmos as novas vozes críticas da sociedade chapecoense, mas também de ter um espaço na mídia para falar absolutamente qualquer coisa que gostaríamos. Informação: em 2021, a rádio Efapi era a QUARTA mais ouvida da cidade, sendo a primeira não comercial. Vamos ao programa.
Pois bem, dia 18 de dezembro de 2021, nasceu definitivamente o Programa Jovem. Tal qual a efeméride de 11 de setembro foi roubada do Chile por conta dos ataques aos EUA em 2001, nesta data os maldosos apenas lembrarão que este também foi o dia que o Messi foi campeão do mundo pela Argentina (um ano depois). Besteira. Por volta das 14h30, já estávamos na Rádio. Éramos precedidos pelo programa “Chão da Viola”, apresentado por Serginho, definitivamente um show de audiência. A responsabilidade era grande, não apenas em termos de plateia, mas de apresentar um programa sólido perante a sociedade enquanto síntese de um trabalho que vinha há mais de um ano sendo desenvolvido.

Entre a euforia e a ansiedade, o primeiro programa foi embora e o segundo seria apenas em 2022, devido a paralisação do final de ano; teríamos tempo para debater e discutir. Conforme as semanas iam passando, o programa evoluiu gradativamente, seja a respeito do formato, das pautas, da qualidade e da participação da audiência. Julgávamos necessário discutir questões que pouco repercutiam nas rádios comerciais, mais interessadas em vender pautas e músicas do que discutir os problemas sérios da cidade. Evidentemente, sabíamos do nosso limite, mas em nenhum momento isso passou a ser um impeditivo.
Trouxemos discussões a respeito da falta das vagas em creche para os filhos da classe trabalhadora, das escolas, da falta do atendimento médico de qualidade nas UPAs da cidade e a demora nas filas, sempre buscando olhar pelo viés das pessoas que mais precisavam destes serviços. Discutimos sobre os problemas do machismo na sociedade chapecoense e também no ambiente educativo superior, devido aos inúmeros casos abafados. Pautamos a discussão os problemas da fome que aumentou no país no período da pandemia e os problemas da falta de vacinação na cidade. Levamos alguns jovens estudantes e também especialistas para discutir estes problemas e tantos outros. Este viés crítico foi adotado – como não poderia ser diferente – numa cidade que se considera o suprassumo do desenvolvimento econômico, onde frequentemente seus "líderes" minimizam os problemas sociais, desdenham dos movimentos de oposição e estabeleceram uma cruzada política e moral contra "a esquerda". Ajudamos a promover setores da cultura e jovens artistas, trazendo seus trabalhos e divulgando eventos durante o programa. Estes foram alguns dos pontos que trabalhamos no projeto. O objetivo era sempre estabelecer uma linha direta com os problemas enfrentados pela população trabalhadora.
Diante disso, tivemos uma ideia de sempre associar uma pauta da semana e aprofundá-la historicamente, de uma maneira mais popular. Lembro que fizemos esse movimento com o Carnaval e com a história da alimentação, trazendo o bolo como exemplo, aproximando-se dos problemas do tempo presente. Mas não só de bons momentos viveu o programa. A falta de pessoas dispostas a colaborar permanentemente com o projeto, participar da produção e apresentação botaram pedras no caminho, como a responsabilidade considerável sobre a minha pessoa no andamento do projeto. No processo, eu ajudava na elaboração do roteiro, nas pautas, na locomoção da galera e na apresentação do programa. Assim, quando tive que me mudar para Florianópolis para dar continuidade à graduação in loco, o programa sobreviveu a mais poucas edições, existindo de dezembro de 2021 a maio de 2022.
De qualquer maneira, o Programa Jovem foi um movimento muito importante para a consolidação de nossa juventude em alguns espaços da sociedade chapecoense e para o desenvolvimento de algumas pessoas que faziam parte dele e, também, da juventude do PT em Chapecó. Acredito que esta etapa esteve fortemente relacionada com a mobilização da juventude, que já vinha acontecendo de forma sistemática, em um processo que colaborou a nível municipal na eleição do Lula em 2022 e, principalmente, na derrota do bolsonaro. Além de deixar momentos muitos felizes na memória! Um abraço.
Acesso para algumas edições do programa: https://drive.google.com/drive/folders/1xCIa-sBqSabwBJ_MNu9zlbQgHF1uwt6p?usp=drive_link
21/08/25


Ótimo programa!!! Fazia-me companhia aos sábados à tarde