Lituma en los Andes
- Diário Expandido

- 10 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de ago.
Por Clever Moia
Lembrado pela Eduarda, após escrever que gostaria de ler Lituma nos Andes em suas redes sociais, acabei comprando o livro na Estante Virtual, um antigo desejo esquecido. Estou numa cruzada auto imposta de tentar ler alguns clássicos latino americanos, recusando toda sorte de livros MADE IN THE USA. E além disso, é sempre melhor ler os livros depois que os autores ‘grandisimos hijos de re puta’ falacem. É o caso do Llosa. Um adendo importante a história: nunca fui um grande leitor, nunca encarei a leitura como atividade prazerosa, sempre foi um esforço muito grande manter esta rotina. Então, achei uma forma de conduzir isso à algum lugar de satisfação: ler na língua materna, onde teria a oportunidade de exercitar meu espanhol e ainda ter acesso aos traços das expressões locais, palavras, ditados e etc, sem passar por algumas traduções, às vezes, muito simplificadas ou impossível de compreender de uma forma holística. Também, tem um porém nessa condição: eu não domino a linguagem local, tampouco a língua espanhola, o que pode ter deixado algumas coisas pelo caminho, faz parte. Vamos lá:
O livro faz aborda circunstâncias de um contexto super complexo no Peru, por volta dos anos 1980, onde o país ainda vivia sobre resquícios da ditadura militar, uma instabilidade política e social e seu quadro cultural extremamente plural e complexo. Neste cenário, o autor retrata a história de vida de Lituma, um polícia de baixa patente que é transferido do litoral norte peruano até a região dos Andes, na região central, na cidade fictícia de Naccos. Inicialmente, Lituma é apresentado de maneira muito característica: odiava a serra e os ‘serruchos’, sua forma de viver e sua dinâmica político cultural. Junto a ele, havia seu auxiliar Tomasito, que havia passado por um processo amoroso dolorido antes de chegar a Naccos, fazendo questão de sempre abordar o assunto com seu superior. Neste contexto, na região dos andes peruanos, estava concentrado o grupo revolucionário de esquerda Sendero Luminoso, em busca da implementação do processo socialista na região, nem que isto custasse a morte e sequestro de lideranças políticas e pessoas influentes. A trama começa abordando o desaparecimento e morte de três pessoas que compunham esse cenário social, com tons misteriosos e que deixam brechas para interpretação dos acontecimentos. Lituma, o responsável pela averiguação dos casos, no conjunto de suas crenças e pensamento, logo atribui isso ao grupo revolucionário e, num pensamento lógico, passa a temer o seu inevitável destino junto ao seu colega Tomasito, sentimento expresso em várias trocas. Neste sentido, os policiais acabam chegando em Dionísio e Dona Adriana, donos de uma birosca que mantinha em pé os sonhos e agruras dos trabalhadores da estrada que estava sendo construída em Naccos, visando o irremediável progresso. Pouparei detalhes do casal, pois constroem os personagens e o “sub trama” mais interessantes do romance. De qualquer maneira, ambos são investigados pelo desaparecimento dos três homens, uma vez que o apelido de Adriana era ‘la bruja’ e Dionísio havia dito para o policial esquecer isso, uma vez que havia mais coisas entre a serra e o céu que poderia supor a vã filosofia de Lituma. Neste momento, as dúvidas na cabeça do policial já estavam bastante disseminadas, onde aquele conjunto de crenças de um cidadão conservador ocidental estava abalado diante do complexo cultural da região andina. E, justamente neste debate moral e social que a trama se desenvolve, abordando este conflito duro e assustador para Lituma até os momentos finais do livro, passando por diferentes episódios.
Uma questão apelativa é o fato há vários narradores no romance, abordando diferentes perspectivas dos acontecimentos, mas sempre a pretensão de ser conclusivo. Ou seja, trazem elementos combinados não lineares que enriquem muito a leitura. Também, o autor aborda questões de tradições indígenas que vão muitos além dos povos incas, que de maneira proposital pela historiografia ocidental são abordados quase que exclusivamente como os únicos povos indígenas da América Espanhola. De certa maneira, para quem tem um domínio médio da língua espanhola, a leitura pode ser feita com relativo conforto, não sem deixar de ter alguns tropeços aqui, um tradutor ali e umas frases sem tanto sentido para nós, afinal a semântica vai além do jogo de palavras. De qualquer forma, aprendi que o prefixo ‘hua’ é bastante comum para palavras que derivam do quéchua e — possivelmente, de outras línguas originárias. Infelizmente, devido ao pobre acervo digital disponível para tradução e a busca de significados, o mais aproximado que achei para ‘hua’ seria casa, denominando assim vários locais, lugares materiais e simbólicos.
10/08/25



Comentários